domingo, 16 de agosto de 2009

de suar.

entre o molho e o ermo
eu vou me despejando assim
te sugando como um pano enxuto

e mais um minuto
e eu te saudo
como ama seca
falhando os termos desse vai-e-vem

(você
vem
e
vem)

eu sufoco os olhos
eu pa ra gra fo
esse sereno

e


é fuga mansa
(e é quando já estou sem juntas)
é fácil apenas se me
res pi rar
de infinito ou sem pausas
(são todas brandas como o meu sorriso-
verde - de jeito nenhum)

aí você me olha polido
(e até sua tez dissimula o certo)
e então eu juro, vou me comportar:
eu aconselho,
eu cedo os lábios,
remeto a voz,
eu sorrio estridências;

e conjuro a cobiça
e toda a beleza
do sussuro-gozo
nesse ombro seu.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

das mamonas (e cabelos cacheados).

Quando o menino deitar-se ao meu lado, já terei memorizado todo o tempo daquelas noites de sempre verão.
Ele perguntará sobre o suor e eu que nunca fui de suar tanto, enfatizarei com reclamos um calor exorbitante que eu jamais sentia, enterrada entre os cobertores de frio condicionado.
Da janela de dentro assistia a dança dos insetos na lamparina e lá em cima, na parte alta da casinha, confundia vagalumes com um disco-voador. O velho ria de mim e eu me zangava fácil, e ao lembrar disso, cantarei para o menino aquela canção sobre borboletas e frio, acentuando bem o sotaque sertanejo e lhe fazendo rir de mim um riso alto, me reticenciando curioso.
Os cachorros eram me dados feito recompensa e a cadela preta cresceu tão cheia de vontades quanto eu. Sorrindo, contaria do armazém de Catarino, onde eu ganhava pipocas e doces choramingados entre seus dedos de fumo enquanto ele, rabugento, grunhia agrados despercebidos ao lustrar a carabina e tentava me fazer medo com seu dente amarelo de ouro.
O menino nessa hora vai precisar fechar seus olhos, (já que do apartamento é tão difícil imaginar) pois um porco selvagem e cinza me seguia velozmente no terreno de Afonso (vinha em minha direção como alvo e hoje só posso imaginá-lo com presas enormes como predador). Eu após a fuga choraria descabelada, rogando pragas desafinadas sobre o animal, o meu velho, o café negro e todos aqueles bichos de pé.
O velho me colocava pacientemente a chacoalhar na carroceria do carro e o vento encaracolava as minhas raízes, como que para me fazer sossegar do choro que eu nem lembrava mais...
O menino, sobre o meu ombro, tomaria fôlego das minhas lembranças e eu guardaria aquele quintal pra outra noite, onde o homem que sumiu jamais se perdeu na mata, quando aquela pampa usada ainda não foi vendida, onde não se passaram mais dez anos daquele sereno verde meu.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

monólogo de dois.

Eu bem que deveria esquecer.
A mulher disse "você devia esquecer" e enquanto ela me desdenha, eu prefiro eufemizar tanto malogro. Eu não lembro tanta coisa assim, o "tac tac" da máquina já me é pouco familiar e palavras bonitas não significam tanto. Elas gostavam de palavras bonitas e eu aproveitava pra escrever entre suas saias e isso não faz tanto tempo assim (uns nove, dez anos, talvez) e na caixa de charutos ainda guardo poesia.
Eu poderia esquecer, mas prefiro praguejar contra os ônibus cheios, esse monte de cigarros, já faz um tempo que perdi minha caneta tinteiro e minhas insônias não me trazem inspiração.

Eu não consigo dormir cedo e a mulher logo apaga a luminária e se esconde entre as cobertas enquanto franze sua testa e beija a minha.

domingo, 15 de março de 2009

...porque eu não sou pudica.

não consertei toda a bagunça dessa última noite. não alinhei os panos,
continuam perdidos denotando toda essa vontade que não quer nunca sossegar.
o quarto ficou preso e eu me deitei sozinha com o seu gosto em cada pedacinho do meu corpo, e eu podia até sentir seu cheiro forte se fechasse os olhos.
"minha vez, deixa?" e você me diz um não bonito quando aumenta o ritmo do jeito que eu gosto. "isso...".
são duas, três e uma e meia da manhã e eu nunca fico vulnerável nua, as suas mãos sabem exatamente os pontos que você chama de macios, mas é você que é tão suave com toda a fúria desses dedos fortes. todos meus.
as minhas mãos só pensam despudor e ontem o gosto não era mesmo de cerveja, nem de tabaco e eu te vendo assim por cima e te abraçando as pernas ("muito") pra te eternizar. como eu suo!
tenho pensado que é por isso que uso tantas saias e vestidos fáceis, é que o meu corpo não quer resistir ao seu, por isso eu puxo os seus cabelos e te sussurro essas malícias.
nem salso nem doce... quente, bom.
(...)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

malcriada!

não é boa companhia hoje. madrugada 3:17.
os dedos são vermelhos, de quê será?
os olhos ardendo é de febre, as pernas encolhidas (talvez seja o frio)
como pesa uma cabeça quente, gente!
(e essa nuca sem vontade de dormir...)

(eu amo)

não há firmeza na minha caneta, nem no meu juízo
a felicidade me roubou a poesia,
e agora só me resta reclamar e reclamar e reclamar:

não gosto que me chame desse jeito,
nem quando morde forte assim,
não gosto desse negrito inútil mastigando essas palavras
e detesto deletar escrachos por considerar
cê cedilha ou ésse, te ofender assim
inútil!

(eu minto)

as minhas mãos são calmas e eu tô doentinha
mas veneno há, veneno há

é porque nessa noite
a palavra mais bonita
desse mundo
é não.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Camila

"No meio da noite, tremenda euforia
meu canto rasgava, solidão me batia
cantava e cantava e Camila dormia
num canto da casa um pingo batia
queria ter asa, o amor me comia
rezava e fumava e Camila dormia

Camila morena, enquanto tu dormes,
eu brinco com acordes,
eu ouço mil vozes
será que me chega alguém que partiu?

Camila pequena minha flor de maio,
tomara eu me cure de toda ausência
tomara eu não viva por conveniência
tomara eu não morra veloz como um raio

Agora amanhece, o sol se inicia
eu olho pra sala, a casa vazia
enquanto acordavas, meu corpo dormia
lá longe bem sei que a Camila sorria

...E Camila brincava, e Camila cantava
e Camila chorava e Camila orava,
enquanto fora dos meus elementos
minha alma voava e me desfazia..."



(Letra de uma canção antiga e triste, feita por meu pai há dezoito anos atrás.)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

"franklin, my dear"

Vai, meu amigo, isso logo vai passar.
E não é conselho, não é acalanto. É reza boa, presumida!
Aqui quem fala é meu tempo combinado ao martírio diário, o que pode te entender.
E eu digo que vai, vai passar sim, deixando o perfume da saudade no ar e te enxendo os pulmões de um câncer próspero, de febre. Dá pra sentir o sangue quente reclamar o amor vazio que existe só na sua vontade. (É só respirar)
Vontade deita a cabeça no travesseiro das suas insônias, não é? Pena que ela custa a dormir...
Pois eu te asseguro que ela vai embora e você vai sossegar, podendo arfar e aspirar sereno qualquer nova desilusão de gosto pérfido, adstrigente.
..Porque esse câncer, meu amigo,
esse câncer sim, é vida (...)

sábado, 10 de janeiro de 2009

betânia, 252.

Vi uma menina branquela cheia daquelas pintinhas escuras e grandes pela pele, acho bonito.
Ela tem cara de se chamar Joana, e eu não sei porquê, mas esse nome tem um som tão esquisito, parece um nome de porta aberta, de gosto ameno, como o sabor do sorvete de flocos do Luís, da casa ao lado.
Odeio flocos por causa disso! Aquele viado contribuiu para a minha preferência pelos extremos, quente-frio, sol-chuva, muito-pouco. Eu tocava a campainha da casa dele e me escondia atrás daquela kombi velha do vizinho rabujento de cabeça branca. Ele me delatou uma vez e o viado xingou uns nomes ridículos com aquela voz afeminada, e minha avó me disse que eu não tenho jeito não. Vai ver é por isso que eu odeio flocos. Além do que, não tem gosto de nada!
O viado me disse há dez anos que aquela mulher de cara magra era uma "quenga" e que os pêlos de suas partes de baixo são da mesma cor amarela que os seus cabelos, descoloridos com água oxigenada da padaria da esquina. Eu hoje me pergunto como é que ele sabia disso...
Um dia recebi elogios de todos eles e eu era bem novinha e não entendi os motivos de tanta comoção, mas eu catei uma vassoura da cozinha e gastei horas varrendo a rua enlameada. Eu não sei por que fiz isso, sabia que não, aquilo ali não fazia sentido algum e que daqui a pouco já estaria tudo sujo de novo, mas varri por horas e eles me motivavam, talvez sádicos ou mais estúpidos que eu.
Nessa mesma rua asfaltada, caí de pés descalços e os joelhos desprotegidos daquele chão tão quente e queria tanto impressionar que não segurei meu choro, porque doeu de verdade e sangrou um bocadinho e o menino que eu achava bonito me ajudou a levantar. (Dez anos depois e descobri que ele é um frouxo)
A Bilica era muito feia, mas os seios dela estão mais fartos e durinhos que os meus e agora o nome dela é Roseline, ela me trata com desprezo e brinca com o dono daquele bar.
O louco da rua ainda não morreu e o dono da padaria ainda é o mesmo, coitado. Nunca saiu dali.
Hoje em dia vira os olhos para as minhas nádegas e eu acho tudo muito engraçado, ele me olha pela câmera instalada acima do caixa e disfarça com aqueles óculos de armação de homem casado. Sem vergonha!
E eu não sei por que, mas prefiro os tempos da piscininha de mil litros.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

namoradinho.

"Eu tive um sonho era bonito assim, e eu podia flutuar nos meus balões,
e era tudo colorido e tão macio, que até o chão da minha sala era feito de algodão..."
E eu acordei sorrindo, ultimamente ando sorrindo muito,
e é claro que eu sei o que se passa, oras.
sei principalmente nas horas que ele está do lado,
desbotando a minha cor rubra (como aconteceu com aquele peixe)
presente agora nas ressacas de ternura, de manhã cedo.
Queria mesmo ser daquele jeito doce,
mas sou tão despudorada que minhas maçãs não coram,
e o impulso é vida quando sai da minha garganta qualquer verdade estúpida,
e ele me olhando incrédulo 'é a coisa mais bonitinha que tem'.
Ele não entende de tintas, eu não sei nada de cores,
mas o peixinho é amarelo, o lápis é cinza-claro
e a pele dele com a minha é um contraste que eu adoro ver.
O carinho na nuca me comove e estamos ficando mal acostumados,
com a irresponsabilidade segurando nossas mãos
e ando tão boba que quase acredito quando ele diz que sou tão linda.
A culpa é dele, por essa calmaria que logo vai virar saudade,
essa pieguice estranha e a prolixidade branda me impedindo um desfecho breve,
mas é que todo esse meu riso jamais caberia num papel de halls.