terça-feira, 4 de agosto de 2009

das mamonas (e cabelos cacheados).

Quando o menino deitar-se ao meu lado, já terei memorizado todo o tempo daquelas noites de sempre verão.
Ele perguntará sobre o suor e eu que nunca fui de suar tanto, enfatizarei com reclamos um calor exorbitante que eu jamais sentia, enterrada entre os cobertores de frio condicionado.
Da janela de dentro assistia a dança dos insetos na lamparina e lá em cima, na parte alta da casinha, confundia vagalumes com um disco-voador. O velho ria de mim e eu me zangava fácil, e ao lembrar disso, cantarei para o menino aquela canção sobre borboletas e frio, acentuando bem o sotaque sertanejo e lhe fazendo rir de mim um riso alto, me reticenciando curioso.
Os cachorros eram me dados feito recompensa e a cadela preta cresceu tão cheia de vontades quanto eu. Sorrindo, contaria do armazém de Catarino, onde eu ganhava pipocas e doces choramingados entre seus dedos de fumo enquanto ele, rabugento, grunhia agrados despercebidos ao lustrar a carabina e tentava me fazer medo com seu dente amarelo de ouro.
O menino nessa hora vai precisar fechar seus olhos, (já que do apartamento é tão difícil imaginar) pois um porco selvagem e cinza me seguia velozmente no terreno de Afonso (vinha em minha direção como alvo e hoje só posso imaginá-lo com presas enormes como predador). Eu após a fuga choraria descabelada, rogando pragas desafinadas sobre o animal, o meu velho, o café negro e todos aqueles bichos de pé.
O velho me colocava pacientemente a chacoalhar na carroceria do carro e o vento encaracolava as minhas raízes, como que para me fazer sossegar do choro que eu nem lembrava mais...
O menino, sobre o meu ombro, tomaria fôlego das minhas lembranças e eu guardaria aquele quintal pra outra noite, onde o homem que sumiu jamais se perdeu na mata, quando aquela pampa usada ainda não foi vendida, onde não se passaram mais dez anos daquele sereno verde meu.

3 comentários:

Gusthavo disse...

Amor, li agora de novo e vi que dá num curta essa história do porco e causos contados no apartamento. Vou fazer meus contatos.

Te amooo, sua artista!

Natacha disse...

Ó, fia, fazia um tempo que não conferia a tua observância, mas que grata surpresa para uma tarde abafada dessas me deleitar com as tuas histórias!

Soraia Magalhães disse...

Mila, Amor...hora de retomar esse trabalho tão cheio de ti...amo ler o que você tem nessa cabeça tão cheia de detalhes...VOLTA!