sábado, 10 de janeiro de 2009

betânia, 252.

Vi uma menina branquela cheia daquelas pintinhas escuras e grandes pela pele, acho bonito.
Ela tem cara de se chamar Joana, e eu não sei porquê, mas esse nome tem um som tão esquisito, parece um nome de porta aberta, de gosto ameno, como o sabor do sorvete de flocos do Luís, da casa ao lado.
Odeio flocos por causa disso! Aquele viado contribuiu para a minha preferência pelos extremos, quente-frio, sol-chuva, muito-pouco. Eu tocava a campainha da casa dele e me escondia atrás daquela kombi velha do vizinho rabujento de cabeça branca. Ele me delatou uma vez e o viado xingou uns nomes ridículos com aquela voz afeminada, e minha avó me disse que eu não tenho jeito não. Vai ver é por isso que eu odeio flocos. Além do que, não tem gosto de nada!
O viado me disse há dez anos que aquela mulher de cara magra era uma "quenga" e que os pêlos de suas partes de baixo são da mesma cor amarela que os seus cabelos, descoloridos com água oxigenada da padaria da esquina. Eu hoje me pergunto como é que ele sabia disso...
Um dia recebi elogios de todos eles e eu era bem novinha e não entendi os motivos de tanta comoção, mas eu catei uma vassoura da cozinha e gastei horas varrendo a rua enlameada. Eu não sei por que fiz isso, sabia que não, aquilo ali não fazia sentido algum e que daqui a pouco já estaria tudo sujo de novo, mas varri por horas e eles me motivavam, talvez sádicos ou mais estúpidos que eu.
Nessa mesma rua asfaltada, caí de pés descalços e os joelhos desprotegidos daquele chão tão quente e queria tanto impressionar que não segurei meu choro, porque doeu de verdade e sangrou um bocadinho e o menino que eu achava bonito me ajudou a levantar. (Dez anos depois e descobri que ele é um frouxo)
A Bilica era muito feia, mas os seios dela estão mais fartos e durinhos que os meus e agora o nome dela é Roseline, ela me trata com desprezo e brinca com o dono daquele bar.
O louco da rua ainda não morreu e o dono da padaria ainda é o mesmo, coitado. Nunca saiu dali.
Hoje em dia vira os olhos para as minhas nádegas e eu acho tudo muito engraçado, ele me olha pela câmera instalada acima do caixa e disfarça com aqueles óculos de armação de homem casado. Sem vergonha!
E eu não sei por que, mas prefiro os tempos da piscininha de mil litros.

2 comentários:

Maria Amélia disse...

óóótimo!
Adorei adorei adorei.
Lembranças que se rebelam e se revelam em proezas.

gostei também do fôlego que a leitura conduziu os fatos. Como se você estivesse mesmo contando e, enquanto isso, o leitor montando as imagens em sua cabeça.

;)

Natacha disse...

E eu não sei por que, mas prefiro os tempos da piscininha de mil litros.



Eu também.