segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

"franklin, my dear"

Vai, meu amigo, isso logo vai passar.
E não é conselho, não é acalanto. É reza boa, presumida!
Aqui quem fala é meu tempo combinado ao martírio diário, o que pode te entender.
E eu digo que vai, vai passar sim, deixando o perfume da saudade no ar e te enxendo os pulmões de um câncer próspero, de febre. Dá pra sentir o sangue quente reclamar o amor vazio que existe só na sua vontade. (É só respirar)
Vontade deita a cabeça no travesseiro das suas insônias, não é? Pena que ela custa a dormir...
Pois eu te asseguro que ela vai embora e você vai sossegar, podendo arfar e aspirar sereno qualquer nova desilusão de gosto pérfido, adstrigente.
..Porque esse câncer, meu amigo,
esse câncer sim, é vida (...)

sábado, 10 de janeiro de 2009

betânia, 252.

Vi uma menina branquela cheia daquelas pintinhas escuras e grandes pela pele, acho bonito.
Ela tem cara de se chamar Joana, e eu não sei porquê, mas esse nome tem um som tão esquisito, parece um nome de porta aberta, de gosto ameno, como o sabor do sorvete de flocos do Luís, da casa ao lado.
Odeio flocos por causa disso! Aquele viado contribuiu para a minha preferência pelos extremos, quente-frio, sol-chuva, muito-pouco. Eu tocava a campainha da casa dele e me escondia atrás daquela kombi velha do vizinho rabujento de cabeça branca. Ele me delatou uma vez e o viado xingou uns nomes ridículos com aquela voz afeminada, e minha avó me disse que eu não tenho jeito não. Vai ver é por isso que eu odeio flocos. Além do que, não tem gosto de nada!
O viado me disse há dez anos que aquela mulher de cara magra era uma "quenga" e que os pêlos de suas partes de baixo são da mesma cor amarela que os seus cabelos, descoloridos com água oxigenada da padaria da esquina. Eu hoje me pergunto como é que ele sabia disso...
Um dia recebi elogios de todos eles e eu era bem novinha e não entendi os motivos de tanta comoção, mas eu catei uma vassoura da cozinha e gastei horas varrendo a rua enlameada. Eu não sei por que fiz isso, sabia que não, aquilo ali não fazia sentido algum e que daqui a pouco já estaria tudo sujo de novo, mas varri por horas e eles me motivavam, talvez sádicos ou mais estúpidos que eu.
Nessa mesma rua asfaltada, caí de pés descalços e os joelhos desprotegidos daquele chão tão quente e queria tanto impressionar que não segurei meu choro, porque doeu de verdade e sangrou um bocadinho e o menino que eu achava bonito me ajudou a levantar. (Dez anos depois e descobri que ele é um frouxo)
A Bilica era muito feia, mas os seios dela estão mais fartos e durinhos que os meus e agora o nome dela é Roseline, ela me trata com desprezo e brinca com o dono daquele bar.
O louco da rua ainda não morreu e o dono da padaria ainda é o mesmo, coitado. Nunca saiu dali.
Hoje em dia vira os olhos para as minhas nádegas e eu acho tudo muito engraçado, ele me olha pela câmera instalada acima do caixa e disfarça com aqueles óculos de armação de homem casado. Sem vergonha!
E eu não sei por que, mas prefiro os tempos da piscininha de mil litros.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

namoradinho.

"Eu tive um sonho era bonito assim, e eu podia flutuar nos meus balões,
e era tudo colorido e tão macio, que até o chão da minha sala era feito de algodão..."
E eu acordei sorrindo, ultimamente ando sorrindo muito,
e é claro que eu sei o que se passa, oras.
sei principalmente nas horas que ele está do lado,
desbotando a minha cor rubra (como aconteceu com aquele peixe)
presente agora nas ressacas de ternura, de manhã cedo.
Queria mesmo ser daquele jeito doce,
mas sou tão despudorada que minhas maçãs não coram,
e o impulso é vida quando sai da minha garganta qualquer verdade estúpida,
e ele me olhando incrédulo 'é a coisa mais bonitinha que tem'.
Ele não entende de tintas, eu não sei nada de cores,
mas o peixinho é amarelo, o lápis é cinza-claro
e a pele dele com a minha é um contraste que eu adoro ver.
O carinho na nuca me comove e estamos ficando mal acostumados,
com a irresponsabilidade segurando nossas mãos
e ando tão boba que quase acredito quando ele diz que sou tão linda.
A culpa é dele, por essa calmaria que logo vai virar saudade,
essa pieguice estranha e a prolixidade branda me impedindo um desfecho breve,
mas é que todo esse meu riso jamais caberia num papel de halls.