sábado, 8 de novembro de 2008

saideira (de março)

Sabes o que eu faço com o teu amor?
Pois o dispo com olhares serventes e mal comportados que se espalham,
livram-se do castigo de não te sentir e cansados, acabam por se cerrar.
Sou alheia às tuas cenas sôfregas de bebedeira.
Lembro-me de todo aquele "quase" e de quando pintei-me do medo de nunca mais,
que talvez por isso veio em mãos, em cachos, remoendo-me de rancor.
Achas mesmo que com teus lábios tu beijas minha alma?
Tu tocas apenas o meu corpo hirto!
Já não finjo mais quando deixo-me absorver pelos paradoxos absurdos que separam
o meu corpo do tino. Reajo ao teu hálito quente que comove minha nuca frígida
e ignorante aos teus murmúrios embriagados, e já que teus lábios por hora me satisfazem, consinto, te fitando com frieza e cansaço.
Admiro-me cínica quando pousas em mim tuas palavras de amor que de tão brandas e
tão ingênuas, me anulam e enxem meu peito de gelo e mágoa.
Assisto o teu dormir sereno, a boca entreaberta num riso idiota, satisfeito por morar
tão bem no meu desânimo.
Meus dedos livram-se de mim por essas linhas e parágrafos e quase lamentam
o quanto essa inércia me acalanta. E me corrói.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

carta de dois fôlegos.

A ti,
embrulho as minhas ternuras num pedaço de papel grená porque não sei fazer caprichos nem desenho muito bem não entendo de cores e acho feio marcar de batom o que me é tão limpo, até porque eu só quero que tu te lembres da minha boca enquanto tua em beijos secos que são dignos de palavras como "amor" que são tão lindas e tão desinteressantes (as palavras, não os beijos).
escrevo atenciosa o que há de mais sereno aonde exista mais candura o que é macio e azul porque são as besteiras mais doces que posso reunir agora e te entregar nesse papel amassado e virgem como são as minhas mãos escrevendo pela primeira vez uma carta de amor.
Amor amor amor:
Frizando assim porque aproveito do meu ímpeto de esquecimento do que eu realmente sou, uma hora dessas a lucidez já tá dormindo e o que existe é apenas tinta deslizando devaneios e eu não vou dar-me o luxo do convencional porque lembrei-me que mesmo se quisesse nem uso batom nem faço poesia então te beijo aqui de longe com os olhos fechados e aperto bem a boca
(pra ser bem ternura) e faço isso bem de longe pra não te acordar

na mesma hora em que eu respiro
e desanuviada
me lembro que não posso tocar-lhe as mãos
(mas talvez eu nem me importe tanto)
já que nem conheço quem tu és.