terça-feira, 21 de outubro de 2008

quando me vem o acalanto é quando me cria a compaixão.

eu não poderia jamais afastar suas mãos dos meus cabelos,
sabendo que teu consolo precisa saber das minhas tristezas.
(eu posso até chorar pra que tu não percas tal cargo)
eu não posso sentir raiva de tua cor de ouro
(principalmente dela é que não posso sentir raiva),
não posso sequer exigir-lhe que te difiras de mim.
e aí quando tu me perguntares por que choro,
e quando eu invariávelmente disfarçar minha lucidez
(com meu gosto amaro de cerveja e tabaco)
portarei-me como a mais vil das pecadoras,
(das mais líricas pecadoras)
pra que tu me devores com seus olhos lilases
e transcreva toda a minha conduta rubra
para a sua candura fria
(de ciano e amarelo).

terça-feira, 14 de outubro de 2008

sossega Daniel,

que em algum lugar, tu tens nome de anjo.
Em algum lugar tu lavas teus cabelos caracóis com seda e ouro e não te impregnas do cheiro de fumo.
Tuas unhas são brancas e não te coçam aflição de tristes culpas e tu provéns de boa memória para guardar os nomes de tantas morenas.
Tua vista é sempre limpa e ampla e tu podes tragar tuas dores sem paisagens que te distraiam (inclusive nos domingos que são dias de sol). Tu vais poder soluçar sem se importar de fazê-lo, na companhia de sua cachorra gorda de passos calmos e preocupados (Ela ainda será tua única amiga).
Tu podes ali, habitar de vez aquela lua cheia que te empresta isca, enchendo as têmporas de desperdício enquanto o teu membro pulsando sangue não invade as carnes de marias burras.
Em algum lugar tu descansas manso nos zeros dos teus vinte e tantos, mordendo o vazio no seu travesseiro e tentando chorar um pouco, pra ver se aduba tanta solidão.