quarta-feira, 29 de junho de 2011

pra relembrar

Como não se dá falar de amor
sem Zuzu no travesseiro se
tem qualquer coisa viva caminhando ainda nas bordas desse vazio
como?
se a fome passeia pro meu peito com vontade de dormir
enxergando o mundo com os olhos remelentos de quem
deita às dez levanta às onze e dorme mais
Olha,
Dá pra ficar tonto, viu
como quem assistisse todo o tempo de três tantos
no minuto de um só
é
como não falar de amor sem falar de céu azul
(...)
Respira
daquele jeito cardíaco de onde se tomava copos gelados como ração para calibrar
E ia como se tiranizando todo o ritmo do meu sentido
E controlando meus volumes e
desafinando a minha vontade de contar de um
a dez e
Eu conto
Que bonito mesmo é dizer do amor de nuvem,
de pele escura,
e dos gomos de tangerina
que moram tão bem
no melhor sono que
existe
aqui ni mim

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Ferme la porte

Ferme la porte e eu
finjindo um sono até roncado
e falando de mim como se conhecesse de feras
abuso de escárnio e da minha voz
sangro de novo - e um passarinho
pousa inconveniente em tanto lamento
Tu n'es que mon passarinho
E eu arranco as unhas pra não te ferir
E por falta de coragem
de um bom banho
de dormir
Eu grito e me envergonho do grito
Choro e tomo raiva de choro
Mas como bicho isso parece surreal
Desmoronar sem querer, que seja
Et moi
que só eu não sou a gente
Eu posso só que me deixar
arder

domingo, 16 de agosto de 2009

de suar.

entre o molho e o ermo
eu vou me despejando assim
te sugando como um pano enxuto

e mais um minuto
e eu te saudo
como ama seca
falhando os termos desse vai-e-vem

(você
vem
e
vem)

eu sufoco os olhos
eu pa ra gra fo
esse sereno

e


é fuga mansa
(e é quando já estou sem juntas)
é fácil apenas se me
res pi rar
de infinito ou sem pausas
(são todas brandas como o meu sorriso-
verde - de jeito nenhum)

aí você me olha polido
(e até sua tez dissimula o certo)
e então eu juro, vou me comportar:
eu aconselho,
eu cedo os lábios,
remeto a voz,
eu sorrio estridências;

e conjuro a cobiça
e toda a beleza
do sussuro-gozo
nesse ombro seu.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

das mamonas (e cabelos cacheados).

Quando o menino deitar-se ao meu lado, já terei memorizado todo o tempo daquelas noites de sempre verão.
Ele perguntará sobre o suor e eu que nunca fui de suar tanto, enfatizarei com reclamos um calor exorbitante que eu jamais sentia, enterrada entre os cobertores de frio condicionado.
Da janela de dentro assistia a dança dos insetos na lamparina e lá em cima, na parte alta da casinha, confundia vagalumes com um disco-voador. O velho ria de mim e eu me zangava fácil, e ao lembrar disso, cantarei para o menino aquela canção sobre borboletas e frio, acentuando bem o sotaque sertanejo e lhe fazendo rir de mim um riso alto, me reticenciando curioso.
Os cachorros eram me dados feito recompensa e a cadela preta cresceu tão cheia de vontades quanto eu. Sorrindo, contaria do armazém de Catarino, onde eu ganhava pipocas e doces choramingados entre seus dedos de fumo enquanto ele, rabugento, grunhia agrados despercebidos ao lustrar a carabina e tentava me fazer medo com seu dente amarelo de ouro.
O menino nessa hora vai precisar fechar seus olhos, (já que do apartamento é tão difícil imaginar) pois um porco selvagem e cinza me seguia velozmente no terreno de Afonso (vinha em minha direção como alvo e hoje só posso imaginá-lo com presas enormes como predador). Eu após a fuga choraria descabelada, rogando pragas desafinadas sobre o animal, o meu velho, o café negro e todos aqueles bichos de pé.
O velho me colocava pacientemente a chacoalhar na carroceria do carro e o vento encaracolava as minhas raízes, como que para me fazer sossegar do choro que eu nem lembrava mais...
O menino, sobre o meu ombro, tomaria fôlego das minhas lembranças e eu guardaria aquele quintal pra outra noite, onde o homem que sumiu jamais se perdeu na mata, quando aquela pampa usada ainda não foi vendida, onde não se passaram mais dez anos daquele sereno verde meu.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

monólogo de dois.

Eu bem que deveria esquecer.
A mulher disse "você devia esquecer" e enquanto ela me desdenha, eu prefiro eufemizar tanto malogro. Eu não lembro tanta coisa assim, o "tac tac" da máquina já me é pouco familiar e palavras bonitas não significam tanto. Elas gostavam de palavras bonitas e eu aproveitava pra escrever entre suas saias e isso não faz tanto tempo assim (uns nove, dez anos, talvez) e na caixa de charutos ainda guardo poesia.
Eu poderia esquecer, mas prefiro praguejar contra os ônibus cheios, esse monte de cigarros, já faz um tempo que perdi minha caneta tinteiro e minhas insônias não me trazem inspiração.

Eu não consigo dormir cedo e a mulher logo apaga a luminária e se esconde entre as cobertas enquanto franze sua testa e beija a minha.

domingo, 15 de março de 2009

...porque eu não sou pudica.

não consertei toda a bagunça dessa última noite. não alinhei os panos,
continuam perdidos denotando toda essa vontade que não quer nunca sossegar.
o quarto ficou preso e eu me deitei sozinha com o seu gosto em cada pedacinho do meu corpo, e eu podia até sentir seu cheiro forte se fechasse os olhos.
"minha vez, deixa?" e você me diz um não bonito quando aumenta o ritmo do jeito que eu gosto. "isso...".
são duas, três e uma e meia da manhã e eu nunca fico vulnerável nua, as suas mãos sabem exatamente os pontos que você chama de macios, mas é você que é tão suave com toda a fúria desses dedos fortes. todos meus.
as minhas mãos só pensam despudor e ontem o gosto não era mesmo de cerveja, nem de tabaco e eu te vendo assim por cima e te abraçando as pernas ("muito") pra te eternizar. como eu suo!
tenho pensado que é por isso que uso tantas saias e vestidos fáceis, é que o meu corpo não quer resistir ao seu, por isso eu puxo os seus cabelos e te sussurro essas malícias.
nem salso nem doce... quente, bom.
(...)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

malcriada!

não é boa companhia hoje. madrugada 3:17.
os dedos são vermelhos, de quê será?
os olhos ardendo é de febre, as pernas encolhidas (talvez seja o frio)
como pesa uma cabeça quente, gente!
(e essa nuca sem vontade de dormir...)

(eu amo)

não há firmeza na minha caneta, nem no meu juízo
a felicidade me roubou a poesia,
e agora só me resta reclamar e reclamar e reclamar:

não gosto que me chame desse jeito,
nem quando morde forte assim,
não gosto desse negrito inútil mastigando essas palavras
e detesto deletar escrachos por considerar
cê cedilha ou ésse, te ofender assim
inútil!

(eu minto)

as minhas mãos são calmas e eu tô doentinha
mas veneno há, veneno há

é porque nessa noite
a palavra mais bonita
desse mundo
é não.