quinta-feira, 13 de março de 2008

ritual.

Recolho toda a tristeza antiga que ainda me resta e me atormenta.
Fito-me com olhos vermelhos que refrescam meu rosto refletido no espelho sujo. Escolho o ângulo em que me sinto mais bela, e tal beleza distrai soluços pausados que se desinxam baixinhos afim de não me condenarem.
Grito desamores mudos por entre versos de edredon. Quero molhar todo o meu corpo de lágrimas e quem sabe assim secar minha alma, mas o pranto foi-se embora saciado. Me alivia.
Abraço minhas pernas e escondo meu rosto nos cabelos curtos, os sempre reféns de meus subterfúgios. Não me acalentam mais, e pouco aquecem minha nuca, acostumada com tais revoluções aflitas.
Visto meus ombros claros de menina-moça que não vi crescer, como se o tempo escorregasse arredio pelos meus dedos tortos, cedendo rastros de memória à minha escrita densa.
Beijo meus lábios refletidos, inchados de pranto e de um vermelho doce. Meus olhos roucos me sussurram o canto da ciranda triste que não danço mais.
Tenho dezoito anos de idade e não caibo mais em mim.

2 comentários:

Son disse...

Muito bom.

Será que chegou a hora de voar?

Beijos

Pups e Tete disse...

Esse foi o meu preferido....!!!
Acho que foi o que mais bateu com um pensamento que tenho, alias...com uma personalidade que eu tenho...
a verdade é que o que toca mais é aquilo que te serve como um exemplo que acontece normalmente dentro da parede que temos na mente.
Todos temos bloqueios na cabeça..e isso que escreveu é o tipo de coisa que me tira um bloqueio...!!!
Perfeito..!!! Adorei...!!!